Eu caí no mundo dos vinhos muito por acaso. Eu tinha meus 19 anos e trabalhava com reposição de vinhos numa grande loja de Sorocaba e muitas coisas me intrigavam: por que tantos vinhos? por que tantas uvas? por que tantos preços?
Muitas coisas acerca do que é vinho, me chamavam a atenção. Muitos porquês a entender e alguns que ainda restam. A ideia dessa coluna é falar sobre vinhos, do vinhedo até sua taça e tentar resumir o que tenho aprendido nos últimos anos e trazer a você, caro leitor, o mesmo prazer que tenho quando vou abrir uma garrafa. Nesse primeiro texto, vou falar dos primeiros passos, sempre os mais difíceis, mas que eu garanto a você, valerá a pena. Para que esse primeiro texto não fique muito longo, vou falar de três pontos de partida, que eu acredito que sejam importantes:
Primeiro – e talvez o mais importante de tudo – é entender o que é Terroir (leia-se te-rro-ar). A palavra terroir resume um conjunto de fatores que envolvem onde as uvas são plantadas, clima, tipo de solo, altitude, pluviosidade, horas de sol, amplitude térmica, temperatura média e por aí vai. Essas características vão impactar diretamente como a uva se desenvolverá e consequentemente, como será o vinho. Resumidamente, terroir é a palavra usada para explicar as características de determinada região. É importante entender o impacto do terroir nas uvas, para entender o que esperar de cada vinho e de forma muito genérica – no vinho, tudo depende e tudo importa – vinhos de regiões mais quentes (Maipo e Colchagua, no Chile) produzem vinhos mais intensos e encorpados, enquanto, regiões mais frias (San António e Casablanca, também no Chile) produzem vinhos mais leves. Só nesse exemplo, já temos a influência do Terroir dentro de um mesmo país.
Segundo, as uvas. Embora seja muito confuso no começo, após algum tempo provando – e lendo – você se acostumará com nomes e os estilos que os vinhos podem (lembrem-se, sempre depende) entregar. Começando com as uvas brancas, a Sauvignon Blanc entregará aromas de frutas cítricas e um toque herbáceo, enquanto a Chardonnay, apresentará mais corpo e aromas de abacaxi e manga. Para essas uvas, tente buscar vinhos do mesmo país ou da mesma região, para começar a entender como um mesmo local pode entregar diversos vinhos diferentes. Para os tintos, eu costumo sugerir três variedades:
- Pinot Noir (pinô noar), com seus aromas de frutas vermelhas frescas e um leve toque terroso. Na boca, entregam vinhos leves, taninos baixos e acidez normalmente alta;
- Carmenère (carmenér), produz vinhos com bom equilíbrio entre taninos, acidez e corpo e aromas de frutas negras com leve toque herbáceo;
- Cabernet Sauvignon (cabernê sôvinhôn) é uma das uvas tintas mais plantadas no mundo todo. Entrega aromas de frutas negras e/ou vermelhas e uma leve pimenta preta e no paladar pode entregar vinhos encorpados ou de médio corpo, dependendo da intenção do enólogo. Se dá bem com algum envelhecimento em madeira, o que geralmente dará maior corpo e deixará seus taninos mais redondos.
(Fonte: Revista Adega)
E finalmente, a degustação! Aqui temos uma parte fundamental que é a de entender o vinho (vou abordar melhor isso na próxima coluna) e entender a proposta do enólogo. Quando colocar o vinho na taça, veja a cor do vinho, que deve se apresentar brilhante. Para os vinhos brancos, a cor pode ser do amarelo esverdeado, amarelo palha ou dourado. Já para os tintos, temos principalmente as cores púrpura, rubi e granada. Depois veja se consegue distinguir algum aroma – caso esteja em casa, vale ter a roda dos aromas à mão – e em seguida, gire a taça para liberar alguns aromas e preste atenção para ver se consegue mais algum aroma. Agora vem a hora mais esperada: o primeiro gole! Aqui temos alguns pontos importantes:
- Acidez – sensação de salivação nas laterais da língua;
- Corpo – o quanto esse vinho preenche a boca;
- Taninos – é uma sensação adstringente, que resseca a boca e é encontrada principalmente em vinhos tintos e alguns rosés.
- Podemos ter ainda o dulçor e carbonatação (este último se aplica a frisantes e espumantes).
Talvez a dica mais importante de todas: não se pressione quando for degustar seu próximo vinho. Eu lembro de me sentir super pressionado a identificar os aromas logo no início do meu primeiro curso de vinhos. Meus colegas de turma, já acostumados com os rituais que envolvem o vinho, tinham uma facilidade invejável em descrever um sauvignon blanc chileno, com suas notas de maracujá e um leve toque herbáceo, enquanto eu pensava que só conseguia sentir aromas de…. vinho. Aproveite seu vinho e tente identificar o que te agrada (ou não) naquele vinho, perceba se ele é “encorpado” demais, de menos ou no ponto certo, se ele é melhor acompanhando ou não o prato que você escolheu para aquela ocasião. Não se pressione a entender logo de cara e saiba que, você entrará num caminho sem volta e não se esqueça: qualquer que seja a sua jornada, que ela valha a pena.
Saúde e até a próxima taça.